agora fecha
abro uma janela para cada colecção de vidas
converso com os objectos que já foram casa – um monte de tralha, dizes
(dizes tanta coisa)
não gosto de os embalar e não, não quero matar aquela centopeia
dançamos um bocadinho?
deixa a chave no lugar combinado
arejamos as gavetas
sacudimos as cortinas cheias de histórias em tecidos
fecha as portas do jardim
eu arrumo o espelho
e dançamos mais um bocadinho
oferece-me flores, canções gulosas e poesias picantes
é que a vida também se come
(e a vida tem sempre razão)
e dançamos mais um bocadinho
escuto agora os cantarolares quase escaganifobéticos da passarada nos regressos
vamos fazer uma casa naquela árvore e pescar molhadas de estrelas, dizes
saio livre para o ar quente desta hora do adeus
fecha a porta, fecha, fecha, desliga o ninho,
que não dançamos mais aqui.
Text by Teresa Carreiro